sábado, 10 de julho de 2010

ELE*

Ele não era o tipo de garoto apaixonável. Paixão e amor eram prováveis palavras inconstantes em seu vocabulário. Ele era o tipo de garoto apaixonante. Com quase vinte anos, ainda me lembrava alguns dos meninos de dezessete que conheço. Bermudas e calças sem o devido uso, caídas demais pra chamar atenção ou por pura falta de capricho. Estilo peculiar de garoto de banda, barba às vezes bem feita, às vezes por fazer. Tinha lábia, pura conversa fiada. Conversa encantadoramente fiada. Atraia as garotas assim. Conseguia tudo que queria assim. Ninguém era capaz de lhe dizer um simples ‘não’. A alternância de suas palavras em críticas seguidas de elogios parecia ser a tática perfeita. Não havia falha alguma no seu processo de conquista. Era impecável. Ele era impecavelmente perfeito – à primeira vista. Pobres garotas que ousavam planejar um futuro com ele em seus sonhos. Decepcionar-se-iam em questão de meses, talvez dias.
Ele não era o garoto certo para planos, muito menos para um futuro programado. Ele era perfeito, e talvez justamente isso o tornasse tão imperfeito e tomado por defeitos. Sem contar... ah!, sem contar aquela pretensão irritante. Ele sabia que era bom, sabia que estava a frente dos outros e isso o tornava absurdamente prepotente. Então, uma garota surgiu. Talvez para mostrar a ele que nem tudo em que toca se apaixona perdidamente. Para mostrar que existe alguém ainda menos apaixonável que seu próprio reflexo no espelho. Ou apenas para ser a primeira pessoa com coragem suficiente para dizer um ‘não’ para toda aquela perfeição e pretensão, embora saiba que seu ‘nãoterá nenhum efeito. E, até o dia que a pessoa que o faça render seu coração não chegar, ele vai continuar sendo aquele mesmo tipo certo de cara errado.

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